sábado, 7 de abril de 2012

PÁSCOA GAÚCHA


PÁSCOA GAÚCHA


Domingo de Ramos

Se bandeava pra cidade
Pros pagos de Jerusalém.
Levava junto também
Doze queras companheiros,
Que seguiam o Divino Tropeiro
Em sua grande jornada,
Para ensinar a peonada
O caminho verdadeiro.

No lombo de um jumento
Jesus Cristo tropeava.
De vez em quando parava
Para uma saudação
Lhe acenavam com a mão
Ofertando ramos e flores
Pois, o Senhor dos Senhores
Pastoreava no rincão.

Última Ceia e Lava-pés


Por entre ruas e ranchos,
Caminhavam Pedro e João.
Os passos marcavam o chão
Procurando uma morada,
Para uma ceia sagrada
E a Páscoa festejar,
Com o Mestre a esperar
Por uma casa emprestada.

Sentaram à mesa os doze
Mais o Divino Tropeiro,
Para um banquete verdadeiro
Coberto por facho de luz.
A última ceia de Jesus
E se cumprisse a Escritura,
Que a Divina Criatura
Seria pregada a uma cruz.

Parte o pão, consagra o vinho,
Pra que saibam repartir.
Seu mandamento seguir
E ensinar para peonada.
Porque a gente não é nada
Se não seguirmos o caminho
E ficaremos sozinhos
Como ovelha desgarrada.

Pegou a bacia e uma toalha
Na maior simplicidade,
Foi lavando com vontade
Os pés da sua peonada,
Na água purificada
Pelo Sagrado Tropeiro,
Como exemplo verdadeiro
Na humildade consagrada.


Lavou com carinho de Pai
Quando lava o filho querido.
Pra que seu gesto fosse repetido
Com carinho e muito amor
E repassem sempre o calor
Que brota do coração,
Na autêntica compaixão
De Cristo Nosso Senhor.

Depois, voltou para a mesa.
Olhou a todos antes de falar,
Bem nos olhos para mostrar
Com a maior convicção.
Esta era sua missão,
Se cumprisse a Escritura
E aquela essência pura
Voltaria ao Reino do Patrão.

A Traição

Era noite, estrelas no céu.
Mestre, Apóstolos ao redor do clarão,
Enquanto estralava o tição,
De uma brasa incandescente
Ouviram um clamor de gente
Que vinha em sua direção
E com eles a traição
De Judas num beijo frio e ardente.

Beijou e entregou seu Mestre,
Aquele a quem ensinou o caminho.
Porém, ficou sozinho
Pois, tamanha era a traição.
Judas não tem coração
Trinta moedas foram a paga,
Que causaram tanta mágoa
Escurecendo nosso rincão.

Julgamento

Levaram para Pilatos
Pra que fosse condenado,
Mas ele não viu pecado
Nem crime para punir.
Estaria livre para partir.
Era tamanha a insistência,
De quem não queria clemência
E a Cristo queriam ferir.

Por ser Rei e Soberano,
Com coroa de espinhos foi coroado.
Sem piedade açoitado
Entre riso e zombaria.
E o sangue que escorria
Vertendo da carne quente,
Era o retrato daquela gente
Que o bom caminho não queria.

E lhe puseram uma cruz
Nos ombros pra carregar.
Lhe bateram até sangrar
Sem piedade e compaixão.
Os pés marcavam o chão
Do caminho ao Calvário,
Naquele triste cenário
Do Cristo em sua Paixão.

Crucificação


Os pregos lhe rasgaram a carne
Entre um e outro grito de dor,
Mas, o filho do Senhor
Agüentou com bravura:
“Não sabem estas criaturas
O que hoje estão fazendo.
Por estarem me batendo
Pai, perdoa-lhes das alturas”.

E num último suspiro.
Num forte grito de dor,
O Filho do Nosso Senhor,
Cristo, Rei dos Judeus
Entregou a alma e morreu.
Um trovão, parecia um temporal,
Era um momento desigual
Que até o sol se escureceu.

Condenaram um inocente.
Espancaram nosso Jesus.
Morreu cravado na cruz
Por amor à humanidade.
E o Pai da Eternidade,
O Rei de toda a criatura
Fez cumprir a Escritura
Segundo a sua vontade.

Depois de tudo consumado,
Maria Nossa Senhora
Naquela amarga e triste hora
Recebeu nos braços Jesus.
Morto lhe tiraram da cruz
Pra que fosse enterrado
E o Rei dos reis apagado
Como se apaga uma luz.

Ressurreição


Enterraram nosso Jesus
Em seu sepulcro sagrado,
Pra que fosse sepultado
E não voltasse da sepultura.
Não se cumprisse a Escritura
Que dos mortos ressuscitaria
E que sempre reinaria
Sua verdade tão pura.

Os guardas montavam vigília
Zombando do acontecido,
Pois, Jesus tinha morrido
E já estava enterrado,
Mas, se cumpriu o ditado
Da Sagrada Escritura
E rachou-se a sepultura
Com Cristo ressuscitado.

Levantou-se num facho de luz
Sagrada, forte e incandescente.
Dos mortos voltou pra gente
E antes de subir pro céu,
Num branco e reluzente véu
Ainda mostrou o caminho
Pra que o mundo não ande sozinho
E o homem não viva ao léu.


Um comentário:

  1. Excelente produção poética.
    Eu nunca tinha degustado em versos as estações dos sofrimentos de Cristo.
    Que belíssima inspiração. Será bem-vindo no Colóquio Literário da Academia de Letras do Vale do Taquari, em 22 de maio de 2014.
    Um prazer em conhecê-lo.
    Ab
    José Alfredo Schierholt, acadêmico nº 5 da ALIVAT

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